Minha alma,
te encontro hoje no espelho do tempo,
onde as cicatrizes florescem como lembranças
e a dor veste o perfume de um jardim esquecido.
Você, rosa ferida,
carregou espinhos que não escolheu,
mas nunca deixou de ser flor.
Cada golpe que rasgou suas pétalas
despertou uma força adormecida,
uma raiz que cresceu mais fundo,
segurando firme o chão que te faltava.
Os ventos que te dobraram,
os olhares que te julgaram,
foram só o açoite de uma tempestade
que não sabia o quanto você resistiria.
Rosa,
a mágoa do abandono marcou seu caule,
mas não arrancou a seiva que te fazia viva.
Na ausência dos braços que deveriam proteger,
você se curvou sobre si mesma,
aprendendo a abraçar o vazio
e a criar, na solidão, sua própria primavera.
Hoje, te digo:
não foi a falta de amor que te definiu,
mas a coragem de seguir desabrochando
mesmo quando o jardim era árido.
Ecos de 2008. - Nikelly Silva