Sonhei que deitava com ele de novo.Não por desejo, mas por memória.Uma cama de casal, dois corpos distantes,e um gesto insólito:jogávamos cenouras e batatas picadas sobre nós,como quem planta no corpo a raiz do que foi.Depois cobrimos tudo com um pano branco.Branco como os lençóis que selam pactosou como os olhos de quem aceita o fim sem briga.Ali, entre legumes e silêncios, cozinhava-se algo que não era comida: era o passado querendo virar caldo. Ele se levantou apressado.Disse que Joaquim — o irmão que já se foi —tinha adorado a sopa.E eu entendi: algumas coisas precisam morrer para serem digeridas.Outras, só descansam quando alguém as reconhece como oferenda.Acordei com gosto de terra na boca. Mas sem dor.Como se algo em mim finalmente tivesse se nutridodo que antes era indigestão.
Entre o não dito e o mal compreendido, escrevo.
❝ Escrevo no intervalo entre o que me atravessa e o que consigo dizer. Cada palavra vem do avesso do peito, resgate de afetos partidos e emoções sem forma. Entre o silêncio do não dito e o ruído do mal interpretado, lanço pontes — frágeis e poéticas — entre mim e você. Este é um lugar de pausas fundas e verbos expostos. Bem-vinde às bordas da palavra, onde o sentir encontra abrigo. ❞
segunda-feira, 19 de maio de 2025
Receita de Despedida
sábado, 12 de abril de 2025
Entre os Espinhos da Alma
sexta-feira, 7 de junho de 2024
Ama-me, de Hilda Hilst
Aos
amantes é lícito a voz desvanecida.
Quando
acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido:
Ama-me.
Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora,
Recolhe
tuas papoulas, teus narcisos. Não vês
Que
sobre o muro dos mortos a garganta do mundo
Ronda
escurecida?
Não é
tempo, senhora. Ave, moinho e vento
Num
vórtice de sombra. Podes cantar de amor
Quando
tudo anoitece? Antes lamenta
Essa teia de seda que a garganta tece.
...
Ama-me.
Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito
Vertigens
e pedidos. E é tão grande a minha fome
Tão
intenso meu canto, tão flamante meu preclaro tecido
Que o
mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.
sexta-feira, 17 de maio de 2024
Sinfonia da Alma: Jardim dos Mistérios - Nikelly Silva
O espírito é um jardim, solo da essência,
Sementes do saber, flores da consciência.
Cada pensamento, uma flor a desabrochar,
No jardim da alma, a vida a reverberar.
Em cada pétala, a luz da sabedoria,
Raízes no mistério, na eterna sinfonia.
Cultivamos sonhos, como jardineiros do ser,
O espírito floresce, deixa o coração renascer.
Entre as folhas da introspecção, o silêncio semeia,
No solo da serenidade, a verdade viceja.
O espírito é um jardim, com segredos a desvendar,
No eco das folhas, a sabedoria a murmurar.
CXXI - A MORTE DOS AMANTES
sábado, 11 de maio de 2024
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
Conto: "Nóis Mudemo" - Fidêncio Bogo
Meu pequeno Léxico
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O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo ao Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu,...
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Minha alma, te encontro hoje no espelho do tempo, onde as cicatrizes florescem como lembranças e a dor veste o perfume de um jardim esqu...
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Sonhei que deitava com ele de novo. Não por desejo, mas por memória. Uma cama de casal, dois corpos distantes, e um gesto insólito: jogáv...