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Prece às Estrelas

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As estrelas correspondem à nossa afeição. Elas são mundos doadores de luzes em todas as direções e essa energia divina que viaja pelo espaço infinito se agrega aos Espíritos e às coisas, transformando-se de acordo com as nossas necessidades físicas e espirituais. Porém, ao praticarmos a oração, o enriquecimento desse energismo é sobremaneira grandioso.  Deves saber que tudo vive na sensibilidade que Deus lhe deu, que tudo sente a afabilidade que transmitimos, que tudo se encontra em perfeita sincronia, na casa universal. Nada resiste ao amor. Se amas uma simples pedra, na feição divina do termo Amor, ela te responderá, no silêncio que é peculiar ao seu estado, em doações sutis que por vezes não percebes, mas que são valores imortais. Assim são as plantas, os animais e todas as coisas existentes: mundos, sóis, Espíritos e Aquele a quem devemos toda reverência. Se queremos buscar a harmonia orgânica e psíquica de todas as nossas vestes, a sintonia com as estrelas nos será um caminho satu

Ama-me, de Hilda Hilst

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Aos amantes é lícito a voz desvanecida. Quando acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido: Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora, Recolhe tuas papoulas, teus narcisos. Não vês Que sobre o muro dos mortos a garganta do mundo Ronda escurecida? ...  Não é tempo, senhora. Ave, moinho e vento Num vórtice de sombra. Podes cantar de amor Quando tudo anoitece? Antes lamenta Essa teia de seda que a garganta tece. ... Ama-me. Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito Vertigens e pedidos. E é tão grande a minha fome Tão intenso meu canto, tão flamante meu preclaro tecido Que o mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.

Sinfonia da Alma: Jardim dos Mistérios - Nikelly Silva

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O espírito é um jardim, solo da essência, Sementes do saber, flores da consciência. Cada pensamento, uma flor a desabrochar, No jardim da alma, a vida a reverberar. Em cada pétala, a luz da sabedoria, Raízes no mistério, na eterna sinfonia. Cultivamos sonhos, como jardineiros do ser, O espírito floresce, deixa o coração renascer. Entre as folhas da introspecção, o silêncio semeia, No solo da serenidade, a verdade viceja. O espírito é um jardim, com segredos a desvendar, No eco das folhas, a sabedoria a murmurar.

CXXI - A MORTE DOS AMANTES

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Teremos leitos plenos de essências ligeiras,  Divãs assim profundos como mausoléus,  E flores muito estranhas sobre prateleiras,  Pra nós desabrochadas sob mais lindos céus.  Pondo em uso à porfia as chamas derradeiras,  Os nossos corações serão dois fogaréus  Que irão reverberar suas luzes sem véus  Em nossas duas almas, imagens parceiras.  Numa noite de rosa e de azul transcendente,  Trocaremos lampejo único e ardente,  Como um longo soluço pejado de adeus;  E então, mais tarde, um Anjo, entreabrindo as portas  Irá reanimar, fiel e sorridente,  Os espelhos opacos e as chamas já mortas.  - As flores do Mal, Charles Baudelaire.

Manoel de Barros: Só dez por cento é mentira.

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Manoel de Barros (1916-2014) foi e sempre será um poeta da verdade. Da verdade da vida que teimamos em esquecer. Ele enxergava e respirava poesia em todo o lugar, em todo o momento, e talvez por isso sempre dissesse que só teve infância. "A poesia não floresce em corações amargos e amargurados de jovens e adultos sempre tão ocupados."

Amar ou ter amado. Isso é o suficiente. Não peça nada mais. Não há outra pérola a ser encontrada nas dobras escuras da vida.

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Pobres daqueles que só amam corpos, formas e aparências. A morte levará tudo deles. Procure amar almas, você as encontrará de novo. - Os Miseráveis, Victor Hugo.

Conto: "Nóis Mudemo" - Fidêncio Bogo

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O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo ao Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo. As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz. - Por que você faltou esses dias todos? - É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda. Risadinhas da turma. - Não se diz “nóis mudemo” menino! A gente deve dizer: nós mudamos, tá? - Tá fessora! No recreio as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo! No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações. - Pai, não vô mais pra escola! - Oxente! Módi quê? Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse: - Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece. Não esquec