sábado, 18 de janeiro de 2020

Conto: A carta de uma morta apaixonada



Melquiades meu amor que o nosso amor não morra com o tempo. Estou aqui e não sinto o menor constrangimento em estar lhe escrevendo pela primeira vez, promessa é promessa! E eu prometi lembra? sempre cumprirei minhas promessas, e espero que você cumpra as suas também, depois temos que colocar nossos assuntos em dias, não fique matutando tanto a gente não conversávamos com a boca, mas conversávamos com o coração. Quando você chegava do trabalho e se deitava no meu colo, no sofá da sala de nossa casa, bastava pra mim o seu silêncio e a sua presença. Sem percebermos conversávamos muito_ sem repito, necessidade de articular tantas palavras. Entre nós dois a fala sempre foi pouca, mas, a conversa e o entendimento eram muitos. Estamos Melquiades e haveremos de ficar sempre juntos, estar tudo certo aqui as coisas não são tão diferentes do que tem sido ai... Mas aqui estou meu querido esposo e companheiro teimosa como sempre e insistente como nunca, aflita para enviar ao seu coração este pequeno recado como dizem ai. Você sabe eu não o esqueço a minha preocupação é a mesma de todos os dias e todas as horas. Não fique triste, sinto a sua falta também a falta de seu aconchego, do seu abraço, do seu cheiro... Tanto o quanto você me desejaria ver eu igualmente desejaria velo ao meu lado. Querendo assim você sempre ao alcance dos meus olhos, as suas palavras fazem falta a os meus ouvidos e os seus passos cadenciados dentro de casa fazem falta as batidas do meu coração que sempre se ritmavam por eles, o que mais eu poderia lhe dizer? Meu amor para que você me sinta perto do seu coração, estou morando no andar de cima da nossa casa de tabuas, nela entre as duas residências há uma passagem secreta a qual conhecemos muito bem, é lá que nas noites que sinto mais saudades de você meu amor me encontro, sob o céu constelado e no recanto florido que você me dedicou. E permaneço ali agarrada com a saudade com todo meu coração, feliz e agradecida pelo os anos que passamos juntos, mas lembre-se entre nós não existe qualquer distancia, estamos sempre conectados quando os seus olhos se cegam no corpo no calar da noite quando efetuamos nossos belíssimos encontros. E sabe o que e engraçado tem gente que achava que nós não nos amávamos tanto assim, ora tenha santa paciência! O nosso amor nunca teve esse agarrara agarra nas ruas, como você sabe passamos muitos anos vivendo um amor proibido mais que verdadeiro.
Tenho lembranças de quando ti conheci, estava no meio de alguns colegas segurando um instrumento de sopro que costumava tocar, confesso que não fiquei encantada na primeira vez que ti vi, mas sabia que algo ali estaria prestes a mudar quando olhei em teus olhos pela primeira vez, anos mais tarde estaria eu morrendo de amores por você. Lembro-me que o que mais em encantou em você foram seus olhos, seus bons olhos sinceros e belos ‘olhar chamegante’ que chamei por muito tempo quando estive ao seu lado. Duas coisas que não mudaram durante todo esse tempo que passou, depois que fiz a minha viagem, é que você não perdeu a ternura do seu olhar e o seu cheiro posso senti-lo, sempre que me afogo em nossos momentos de felicidade, me alegro com nossas lembranças. Eu estou desse outro lado onde tudo é maior, sem você comigo tudo me parece excessivamente pequeno pela a sua falta. Melquiades meu amado não sou poetisa mas sei amar, seja uma prosa ou um verso que venha a ti escrever pense que é sempre luz que sai do meu coração. Estou feliz em poder te escrever... é um recado um tanto rápido para falar do meu amor e da saudade que sinto por você, mas foi com todo sentimento verdadeiro. Lembre-se do verdadeiro amor a gente não se liberta; a gente a ele cada vez mais se escraviza estrelas e universos não me interessam mais sem você. O problema é só este. Com todo meu amor e saudades de sua coisa linda que sempre será sua.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Versos de Ternura - Nikelly Silva




Na solidão, um abraço é o porto seguro,

Um refúgio onde a alma encontra abrigo.

No silêncio desse gesto, o mundo é puro,

E no calor do toque, todo vazio é mitigado.

 

Nada mais é necessário nesse instante,

Apenas a presença, o calor do corpo amigo.

É no abraço que o coração se encanta,

E a solidão se dissolve, sem perigo.

 

Então, envolvidos nesse afago sincero,

Descobrimos que juntos somos mais fortes.

Na entrega mútua, o amor é verdadeiro,

E a solidão se transforma em suaves cortes.

 

Assim, no abraço, encontramos a cura,

Para a solidão que nos tenta cercar.

Poise-se aconchegado, a vida é mais pura,

Quando no abraço, encontramos o lar.




O frio toque da Melancolia - Nikelly Silva



 Na vastidão das sombras noturnas, vagueio,

Em busca de alento para a alma desolada.

Meu coração, um campo árido e ressequido,

Chora em versos de uma melodia amargurada.

 

Oh, tristeza que me envolve como um manto,

Teço palavras em teu nome, ó musa da dor.

Meus versos são lágrimas de um pranto,

Que ecoam no vazio, sem ter lugar de valor.

 

Sigo o caminho tortuoso da solidão,

Onde as estrelas se apagam e a esperança se esvai.

A melancolia me abraça com sua fria mão,

E na penumbra da noite, meu ser se desfaz.

 

Assim, neste soneto maior, exponho meu lamento,

E nas entrelinhas, revelo meu tormento.




Soneto do buraco do cu - Arthur Rimbaud


Franzida e obscura flor, como um cravo violeta,

Respira, humildemente aninhado na turva

Relva úmida de amor que segue a doce curva

Das nádegas até ao coração da greta.

 

Filamentos iguais a lágrimas de leite

Choraram sob o vento ingrato que as descarna

E as impele através de coágulos de marna

Para enfim se perder na rampa do deleite.

 

Meu sonho tanta vez se achegou a essa venta;

Do coito material, minha alma ciumenta

Fez dele um lacrimal e um ninho de gemidos.

 

É a oliva extasiada e a flauta embaladora,

O tubo pelo qual desce o maná de outrora,

Canaã feminil dos mostos escondidos.


sábado, 11 de janeiro de 2020

MEU PENSAMENTO É UM RIO SUBTERRÂNEO – Fernando Pessoa



Meu pensamento é um rio subterrâneo.

Para que terras vai e donde vem?

Não sei... Na noite em que o meu ser o tem

Emerge dele um ruído subitâneo

 

De origens no Mistério extraviadas

De eu compreendê-las..., misteriosas fontes

Habitando a distância de ermos montes

Onde os momentos são a Deus chegados...

 

De vez em quando luze em minha mágoa

Como um farol num mar desconhecido

Um movimento de correr, perdido

Em mim, um pálido soluço de água...

 

E eu relembro de tempos mais antigos

Que a minha consciência da ilusão

Águas divinas percorrendo o chão

De verdores uníssonos e amigos,

 

E a ideia de uma Pátria anterior

À forma consciente do meu ser

Dóime no que desejo, e vem bater

Como uma onda de encontro à minha dor.

 

Escutoo... Ao longe, no meu vago tato

Da minha alma, perdido som incerto,

Como um eterno rio indescoberto,

Mais que a ideia de rio certo e abstrato...

 

E p'ra onde é que ele vai, que se extravia

Do meu ouvilo ? A que cavernas desce?

Em que frios de Assombro é que arrefece?

De que névoas soturnas se anuvia?

 

Não sei... Eu percoo... E outra vez regressa

A luz e a cor do mundo claro e atual,

E na interior distância do meu Real

Como se a alma acabasse, o rio cessa...

Meu pequeno Léxico