segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Soneto do buraco do cu - Arthur Rimbaud


Franzida e obscura flor, como um cravo violeta,

Respira, humildemente aninhado na turva

Relva úmida de amor que segue a doce curva

Das nádegas até ao coração da greta.

 

Filamentos iguais a lágrimas de leite

Choraram sob o vento ingrato que as descarna

E as impele através de coágulos de marna

Para enfim se perder na rampa do deleite.

 

Meu sonho tanta vez se achegou a essa venta;

Do coito material, minha alma ciumenta

Fez dele um lacrimal e um ninho de gemidos.

 

É a oliva extasiada e a flauta embaladora,

O tubo pelo qual desce o maná de outrora,

Canaã feminil dos mostos escondidos.