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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Evidências da imortalidade nas recordações de infância

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Caspar David FRIEDRICH (1774-1840) Andarilho sobre o mar de neblina, ca. 1817 Óleo sobre tela. Evidências da imortalidade nas recordações de infância. – Trecho do poema de William Wordsworth. "Houve um tempo em que prados, bosques, riachos a terra, e cada visão comum aparentava a mim vestir a luz celestial a glória e frescura de um sonho. Não é de agora mais do que outrora. Devo ir a outro lugar de noite ou de dia. As coisas que eu já vi, agora não vejo mais." Poema completo: I Houve um tempo em que a relva, a fonte, o rio, a mata          E o horizonte se vestiam                   De uma luz grata,          — Visto que assim me pareciam —, E da opulência que nos sonhos é inata. Hoje está sendo tal como foi outrora;—          Seja o que for, eu,          Na luz ou breu, Eu não verei jamais o que se foi embora. II                   O arco-íris vai, vem,                   E a rosa nos faz bem;                   Alegre, a lua nota Que o céu está completamente nu; à luz          

Augúrios da inocência - William Blake

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Caminho Das Flores", Pintura por Silvana Oliveira "Ver o Mundo inteiro num grão de areia Ver o Céu numa Flor Bravia É ter o Infinito na mão E a Eternidade num dia" Poema completo: " Ver o Mundo inteiro num Grão Ver o Céu numa Flor Bravia É ter o Infinito na mão E a Eternidade num dia Tordo preso numa Gaiola E o Céu inteiro se Desola Pombal com Rolinhas & Pombos Leva todo o Inferno a escombros Cão faminto às Portas de Casa Prevê que o Estado se defasa Cavalo largado na Pista Quer Sangue & quer que o Céu o assista Lebre que grita por ajuda A nosso Cérebro desnuda Rouxinol que no solo jaz Querubim que não canta mais Galo de Briga em pé de guerra A todo Sol Nascente aterra Todo Lobo & Leão uivando Salvam do Inferno um Ser Humano Este cervo que vaga ao léu Leva o Ser Humano ao Céu Cordeiro gera a Discórdia Mas também a Misericórdia Morcego plana no Poente E larga o Cérebro Descrente Coruja que convoca a Treva Diz o que ao Incrédulo entreva Ele que fere o Pass

O dia em que Tennyson morreu

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Título: “Ivan, o Terrível, e seu filho Ivan” Autor: Ilya Repin, 1885. Trecho do poema In Memoriam A. H. H. OBIIT MDCCCXXXIII: 27, de Lord Tennyson. “Eu não invejo em quaisquer humores O cativo vazio de nobre raiva, O pássaro nascido dentro da gaiola, Que nunca conheceu as madeiras de verão. Eu não invejo a besta que leva Sua licença pelos campos do tempo, Irrestrito pelo sentido de crime, A quem uma consciência nunca desperta. Nem ao que pode contar-se como abençoado, O coração que nunca empenhou lealdade, Mas estagna nas ervas daninha, coms da letargia, Nem qualquer outro descanso. Tenho por verdade, Seja sobre o que recais; Eu sinto quando estou mais triste; É melhor ter amado e perdido Do que nunca ter amado.” – Trecho do poema Maud, como citado em Penny dreadful: “Batam, estrelas felizes, Junto com as coisas de baixo; Batam com meu coração Mais abençoado do que posso dizer; Abençoado, mas influenciado por um sofrimento; Que parece se esvair, Mas não deve assim permanecer. Deixe tud

A melodia de Wagner, Liebestod

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Interior casa piano pintura óleo sobre lienzo firmado / | Etsy México A melodia de Wagner, Liebestod. Apresentada na ópera de Tristão e Isolda é trilha da morte de ambos os personagens, condenados a um amor impossível.  Wagner descrevia esta obra como "ações musicais tornadas visíveis." A música desta ópera rompeu vários paradigmas à época. Trecho do libreto: "Poderei compreender-te, ó velha e grave melodia de som de queixume? Flutuando nas brisas do entardecer, chegaste um dia, melancólica, até mim, quando ainda era menino, para anunciar-me a morte de meu pai. Mais ainda lamentosa ressoaste através da aurora cinzenta para revelar ao terno filho o destino materno. Quando meu pai me gerou e morreu; quando minha mãe, moribunda, me deu à luz, a antiga melodia, lânguida e dolente, transportava o lamento de seus ecos angustiosos. Como então hoje me pergunto: a que destino fui consagrado? Para que nasci? Qual foi minha sorte? A velha melodia mo repete agora: para desejar e mor

Desencanto - Manuel Bandeira

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O óleo sobre tela Melancolia, de Constance Charpentier, ilustra a segunda fase do romantismo. Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre.   Manuel Bandeira,  A cinza das horas , 1917.

Ainda assim eu me levanto - Maya Angelou

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A Liberdade guiando o povo  (em   francês :  La Liberté guidant le peuple ) é uma pintura de   Eugène Delacroix . Você pode me riscar da História Com mentiras lançadas ao ar. Pode me jogar contra o chão de terra, Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar. Minha presença o incomoda? Por que meu brilho o intimida? Porque eu caminho como quem possui Riquezas dignas do grego Midas. Como a lua e como o sol no céu, Com a certeza da onda no mar, Como a esperança emergindo na desgraça, Assim eu vou me levantar. Você não queria me ver quebrada? Cabeça curvada e olhos para o chão? Ombros caídos como as lágrimas, Minh’alma enfraquecida pela solidão? Meu orgulho o ofende? Tenho certeza que sim Porque eu rio como quem possui Ouros escondidos em mim. Pode me atirar palavras afiadas, Dilacerar-me com seu olhar, Você pode me matar em nome do ódio, Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar. Minha sensualidade incomoda? Será que você se pergunta Porquê eu danço como se tivesse Um diamante

Ausência - Vinicius de Morais, 1935.

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Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos

Solitário - Augusto dos Anjos

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Pintura: PHILLIP HERMOGENES CALDERON Solitário Como um fantasma que se refugia Na solidão da natureza morta, Por trás dos ermos túmulos, um dia, Eu fui refugiar-me à tua porta! Fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos contorta... Cortava assim como em carniçaria O aço das facas incisivas corta! Mas tu não vieste ver minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele, - Velho caixão a carregar destroços - Levando apenas na tumba carcaça O pergaminho singular da pele E o chocalho fatídico dos ossos! Augusto dos Anjos  ANJOS, A. Eu e Outras Poesias.