A melodia de Wagner, Liebestod
Trecho do libreto:
"Poderei compreender-te, ó velha e grave melodia de som de queixume?Flutuando nas brisas do entardecer, chegaste um dia, melancólica, até mim, quandoainda era menino, para anunciar-me a morte de meu pai. Mais ainda lamentosa ressoaste através da aurora cinzenta para revelar ao terno filho o destino materno. Quandomeu pai me gerou e morreu; quando minha mãe, moribunda, me deu à luz, a antigamelodia, lânguida e dolente, transportava o lamento de seus ecos angustiosos. Comoentão hoje me pergunto: a que destino fui consagrado? Para que nasci? Qual foi minhasorte? A velha melodia mo repete agora: para desejar e morrer! Oh, não! Assim não odiz! Desejar, desejar! Desejar até à morte, sem poder morrer de desejo! Imortal, invocaagora, anelante, a longínqua dispensadora da saúde, para que eu possa morrer em paz.Mudo, moribundo, jazia na barca. A melodia chorava suas queixas e desejos; o ventoencheu a vela, levando-nos até a filha da Irlanda. Ela curou minha ferida; com a espadaqueria abri-la de novo... Mas deixou cair a arma, para oferecer-me um filtro envenenado...e quando eu esperava completa cura, me consagrou o encantamento mais danoso,a fim de que jamais morresse, condenando-me ao suplício eterno. O’ filtro! A bebida!Terrível filtro! Com ânsia furiosa me devoras o coração e o cérebro! Não há salvação,não há doce morte que possa libertar-me da tortura do desejo. Em nenhum sítio meé concedido repousar! A noite me impele ao dia para que eternamente minhas doresdeleitem a insaciável mirada do sol. Oh, como abrasa meu cérebro com o tormentoardoroso de seus candentes raios! Nenhuma sombra noturna logra refrescar o ardentefogo que assim me consome! Que bálsamo poderia aliviar o horrível martírio de semelhantes dores?"